A BMW reina no segmento big trail com sua estupenda R 1200 GS há anos. Tanto no Brasil como na Europa e EUA as grandes GS são as líderes do mercado. Todavia, com a chegada da Yamaha XT 1200Z Superténéré, criada para exatamente atacar a grande BMW, tal reinado pode estar ameaçado. A nova Yamaha promete levar você onde a BMW leva custando cerca de trinta mil reais menos. Idem faz a KTM com sua 990 Adventure que custa praticamente o mesmo que a Yamaha. Seria o fim do reinado da grande alemã? Achamos que não tendo em vista que a R 1200 GS além de enorme carisma tem diferenciais técnicos que garantem à ela exclusividade ímpar. Do motor boxer ao exótico sistema de suspensão, uma R 1200 GS é um concentrado de anos e anos dedicados ao desenvolvimento de uma aventureira à prova de críticas.Todavia é certo que agora a BMW tem rivais de porte e, assim, nada mais útil do que um teste para
mostrar o que fez dela uma líder tão poderosa.
Há algum tempo as BMW de motor boxer ganharam um renovado motor com cabeçote de duplo comando, que acrescentou performance à fama de confiável devoradora de quilômetros. Para esta breve mas intensa avaliação, selecionamos caminhos diversos para sentir todas as possibilidades deste que é o modelo mais vendido da marca alemã. A BMW R 1200 GS Adventure traz expressivos detalhes estéticos que a diferenciam da irmã que não tem o sufixo “Adventure” no nome. Começa pelo seu enorme tanque comporta 33 litros o que significa uma autonomia de 500 km ou mais, característica positiva que é o item número “zero” em qualquer julgamento de uma moto pensada para grandes viagens.
Esta BMW Adventure usada no teste é a versão topo de linha, que vem com tudo e mais um pouco: além de suspensões reguláveis eletronicamente, tem controle de tração, freios ABS e aquecedores e manoplas e o precioso conjunto de malas de alumínio com capacidade para guardar, longe de sujeira ou água, um volume de até 70 litros. No top case cabe um grande capacete tranquilamente. Segundo a fábrica, a GS Adventure pode ter um peso bruto total de 475 kg (35 kg a mais que a versão normal), e isso porque ela tem 20 mm a mais de curso tanto na mola do amortecedor traseiro quanto na mola dianteira do sistema
Telelever.
Fazendo as contas, tal peso bruto significa que uma GS Adventure de tanque cheio pode levar dois adultos de 80 kg equipados e mais 60 kg (!!!) de bagagem.Os 13 litros a mais que a Adventure permite levar no tanque evidentemente fizeram o reservatório ficar volumoso, e para protegê-lo de eventuais tombos há uma estrutura metálica que confere personalidade à esta versão. Também a bolha parabrisa é bem maior enquanto os protetores de mãos, opcionais na GS comum, na Adventure são de série.O motor bicilindro boxer de 1.110 cc tem, como dissemos, duplo comando e 4 válvulas. Como sempre na família boxer, conta com refrigeração mista ar/óleo, bons 110 cv e impressionantes 12,2 kgf.m de torque máximo a míseras 6 mil rpm. Como veremos, o engenho está mais do que adequado à proposta aventureira desta GS de briga.
Estrada e etc… – Da garagem de casa até o início da rodovia é necessário atenção. A largura da Adventure equipada com as bolsas pode fazer um belo estrago se acaso a fresta for menor do que parecia ser. As malas laterais são um pouco mais largas que o guidão (990 mm) e assim, se o guidão passou justinho, melhor parar! A diferença entre pilotar esta GS com o tanque vazio ou cheio é obviamente enorme. Trinta litros situados no alto mudam todo o equilíbrio. Porém a arte da engenharia da BMW se revela justamente aí, pois mesmo sentindo tal diferença, jamais pode-se afirmar que a GS fica desequilibrada. Há apenas de se tomar cuidado em situações delicadas, como curvinhas de baixa velocidade ou em alterações bruscas de trajetória onde os muitos quilos a mais de combustível farão
diferença.
Outro aspecto delicado dessa GS são as manobras com moto parada: ela exige pernas longas e, caso você não as tenha, habilidade de malabarista, pois o banco – regulável em altura – está distantes 890 mm do solo na posição mais baixa.Regular a suspensão através de um simples botão no punho, sistema chamado de ESA – Electronic Suspension Adjustment – é quase surreal. Apertar um simples botão oferece opções variadas de ajuste, basicamente divididos em “Comfort”, “Normal” ou “Sport”, opções estas que têm subdivisões para condição de carga (uma ou duas pessoas) ou tipo de tocada (off-road leve ou pesado) tudo isso facilmente indicado por símbolos no visor de LCD do painel. Aliás, o computador de bordo é extremamente completo, e nele podemos verificar desde consumo instantâneo até a pressão dos pneus entre outros dados, sem jamais tirar as mãos do guidão. O motor DOHC da R 1200 GS Adventure tem ótimo comportamento em retomadas e acelerações e é muito empolgante. Para compensar a introdução de quatro válvulas por cilindro, que costumeiramente ajudam a obter melhor comportamento em altas rotações mas prejudicam um tantinho o torque em baixa, foi adotada uma válvula no escape, que parcializa o sistema em rotações mais baixas, visando o incremento do torque. Funciona perfeitamente, claro, e deu uma nova “voz” ao boxer, que empolga e provoca o piloto a usar o acelerador. No entanto em velocidades constantes entre 120 e 140 km/h o ronco do motor é muito presente, o que compromete o conforto.
A “pegada” deste boxer quatro válvulas é bem diferente da que estávamos acostumados na GS anterior. A disposição é tamanha que em primeira e em segunda marcha, quando literalmente “enfiamos a mão” para valer, a frente sobe com vontade, algo inédito numa BMW deste tipo. Outro espetacular progresso está no câmbio. com engates mais suaves e precisos. Em nossa curta viagem de 300 km ela marcou 15 km/l de média, num ritmo bem forte. Mantendo médias 100 km/h não é impossível ver marcas de até 18 km/l ou mais.De todos os aspectos desta grande viajante, o que talvez seja mais surpreedente é a agilidade, a capacidade de engolir curvas como se fosse uma moto bem mais leve e menor. Mesmo se a GS enviada pela BMW para esta avaliação estivesse com pneus que já haviam passado do ápice de sua performance, a segurança oferecida mergulhando em curvas e abusando do ângulo de inclinação é absolutamente incrível. Quem jamais pilotou uma R 1200 GS não faz ideia da competência de sua parte ciclística apesar da altura e do peso. E talvez esta seja a razão para, numa recente roda de jornalistas especializados em moto, ela ter sido a mais lembrada por vários deles na resposta da seguinte pergunta: “Se você tivesse que ter apenas uma moto, qual seria?” Conforto, capacidade de carga, segurança, potência adequada e mecânica confiável e versatilidade.
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