Antes de montar no lançamento da marca japonesa, é preciso esquecer quase tudo que se sabe a respeito de motos dessa cilindrada. É uma faixa onde a gente encontra esportivas de desempenho afiadíssimo, trails boas para viagens em todo tipo de terreno, estradeiras no estilo custom... Mas essa Honda é inovadora. Geralmente nós jornalistas desconfiamos do marketing das marcas, só que no caso dessa moto somos obrigados a dar o braço a torcer: o nome NC, de New Concept (novo conceito) é muito apropriado.
Basta dizer que essa 700 traz soluções inéditas de construção, como o tanque sob o assento do piloto e centro de gravidade bastante reduzido, graças também ao desenho do chassi (mais rígido e compacto) e ao posicionamento do motor. Por falar na máquina, temos aqui um propulsor com tecnologia de carro. Dá para dizer até que, basicamente, a NC usa metade do motor do Fit 1.4 16V – sim, é um 0.7 8V. São dois cilindros (de quatro válvulas cada) com os mesmos pistões do monovolume. Mas obviamente que houve mudanças para adaptar o conjunto à moto, como um eixo anti-vibrações.
O motor 1.4 16V do Fit serviu de base para o 0.7 8V da NC. O dois cilindros da moto é basicamente metade do propulsor do carro
Não espere, porém, desempenho de esportiva. Apesar da boa potência, de 52,5 cv, não se trata de um motor de alta performance (como o da CB 600F Hornet). O compromisso da NC é com a entrega linear de força em giros baixos e médios, além de um consumo baixíssimo para uma 700. Bem que o painel (simples, mas bonito e de fácil leitura) poderia trazer um computador de bordo para mostrar, em tempo real, o quanto ela bebe pouco. Na cidade, registramos 23,1 km/l. Na estrada, esse valor passa fácil dos 30 km/l. Com um tanque de 14,1 litros, a autonomia em viagens supera os 400 km.
Falando pegar estrada, a NC se mostrou boa companheira para longos trajetos. A posição de pilotagem, bem ereta, proporciona conforto mesmo após horas de passeio. O banco traz espuma de boa densidade e tem formato ergonômico, inclusive para o garupa. O motor silencioso e de funcionamento bem liso (poucas vibrações) ajuda, enquanto a sexta marcha longa permite que você ande a 100 km/h com apenas 3 mil rpm. Já a bolha dianteira resolve em parte o problema do vento, mas é muito pequena para barrá-lo em velocidades mais elevadas.
Não parece, mas o lugar do garupa é confortável para viagens. O painel digital é bem completo, mas poderia ter um computador de bordo
O que o Peugeot 3008 está fazendo aqui? Ele é um crossover, uma mistura de estilos e utilizações como a da NC700 X
Porta-capacete também serve para pequenas compras
Motor derivado de carro, porta-objetos de scooter, posição de pilotagem de trail... Sim, a NC é o que a gente chamaria de crossover no mundo dos carros, aquele modelo que reúne características de dois ou mais segmentos. No caso dessa 700, a mistura vai além. As suspensões são parrudas e de longo curso (153,5 mm na dianteira e 150 mm na traseira), mas os pneus (vestidos em rodas aro 17) são estradeiros, de boa aderência. Acabou que a Honda criou uma moto muito versátil. Apesar do porte imponente, a NC é muito fácil de ser pilotada, mesmo para quem não tem elevada estatura (o assento fica a 83,1 cm do solo). Acostumado à minha 300, me senti "em casa" logo nos primeiros quilômetros.
O centro de gravidade baixo torna a NC muito maleável no trânsito e proporciona boa estabilidade nas curvas. As suspensões merecem elogios pela forma como digerem os obstáculos urbanos e ainda garantem firmeza em estradas sinuosas. Fora isso, o câmbio tem engates macios e o sistema de freio é campeão. Com ABS (opcional), a NC transmite muita segurança, e para com precisão. Aliás, repare nas fotos como o disco de freio traseiro cabe certinho dentro do disco dianteiro. Segundo a Honda, para economizar na produção, as peças são feitas numa só e depois separadas.
A pequena bolha à frente do painel quebra um pouco do vento na estrada. Posição de pilotagem é de trail, bem ereta
Essa peculiariodade dos discos de freio revela apenas uma das sacadas da Honda para baixar o custo da NC. Desenvolvida prioritariamente para o mercado europeu, onde a crise tem exigido modelos mais baratos, a 700 X faz parte de um projeto que engloba mais duas motos, o maxi scooter Integra e a NC 700 S, mais esportiva. Com as três dividindo o conjunto quadro/motor e até o mesmo painel de instrumentos, o preço cai. Sim, mas infelizmente isso só valeu para os mercados europeus, onde a 700 X é tabelada a 6.700 euros (em tornos de R$ 20 mil). Aqui a Honda pegou pesado: enquanto mercado esperava algo abaixo dos R$ 25 mil, valor que a deixaria muito atraente, a a NC chegou por R$ 27.490 na versão básica e R$ 29.990 com o ABS. Aos interessados, resta aguardar alguma redução após o fervor do lançamento, como aconteceu com a maxi trail Transalp.
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